Avançar para o conteúdo principal

O maior milagre!


Normalmente, olhamos para o nascimento de Jesus como o grande milagre o amor de Deus. E, sem dúvida, que há verdade nisso. O Deus eterno e todo-poderoso esvaziou-se e limitou-se, voluntariamente, a uma condição vulnerável e dependente, para nos trazer a redenção. Há muito pouco de realmente compreensível, do ponto de vista humano, na encarnação de Cristo. No entanto, o maior milagre, de facto, não é o do seu nascimento, mas o da sua morte. Habitualmente, não pensamos assim, porque “afinal todos morrem e ele, mesmo sendo inocente, mais cedo ou mais tarde morreria, como todos nós”, pensamos. Esta forma de pensar, prejudica a nossa compreensão da dimensão do milagre que foi a morte de Jesus. E não me refiro somente ao milagre operado pelo seu amor e obediência ao Pai, deixando-se ser levado até à cruz. É mais do que isso!

A morte de Cristo sela o fim de tudo o que nos destrói. Todo o pecado, culpa e castigo que nos pertencia foi descarregado em Cristo, sem nada disso merecer, e é isso que, de facto, nos traz a paz. Como Paulo escreve aos Colossenses 2:14-15, é na cruz que acontece vitória. A morte é a vitória! É na morte que ele riscou a cédula que nos era contrária, foi na cruz que ele a pregou e foi nessa mesma cruz que ele expôs e esvaziou do seu poder todos os poderes das trevas. Essa é a vitória e não há maior milagre do que este! Este é o facto que marca a diferença entre morte e vida. É o que determina que nos é conferida a possibilidade de não continuarmos a ser o recetáculo da ira de Deus, porque ela já foi derramada noutro. Se estávamos numa situação de nem sequer conseguir mitigar as consequências eternas que o pecado tinha sobre nós e, mediante a morte de Cristo, a totalidade dessas consequências é obliterada, por “obra e graça de Deus”, então, não há maior milagre do que este.

Quando lemos, em Génesis 3:15, que a descendência da mulher (Jesus) esmagaria a cabeça da serpente e esta lhe feriria o calcanhar, podemos ser levados a pensar na morte de Cristo como o momento em que a serpente morde o calcanhar e no da ressurreição como o esmagamento da cabeça da serpente. Mas, esta ideia poderá não estar 100% correta, na medida em que o momento da morte de Jesus é o momento da vitória. Lembremo-nos que aquilo que o diabo tentou fazer foi exatamente evitar que Cristo fosse à cruz, como por exemplo, em Mateus 16:22-23. Para alguns comentaristas, a ideia da serpente morder o calcanhar de Jesus poderá estar relacionada com: 1) as várias aflições que procurou infligir em Jesus, durante a sua vida, até ao momento da sua crucificação; 2) uma referência à própria condição humana a que Jesus se encontrava limitado; 3) aos sofrimentos e perseguições infligidos aos seus discípulos, ao longo dos tempos. Seja como for, no momento em que Jesus profere as palavras “está consumado”, na cruz, a cabeça da serpente é esmagada, por completo! Na cruz, Jesus recebe sobre si o nosso pecado, assume a nossa culpa e bebe o cálice da ira e castigo de Deus, que nos estava reservado. Naquele momento, Jesus vive a eternidade do nosso inferno – a separação eterna de Deus, concretizada no rasgar da unidade que Jesus sempre teve com o Pai (“Pai, por que me desamparaste?”). A Unidade Eterna rasga-se, por nós!

O momento em que Jesus morre é o culminar da profecia, a concretização dos tipos, figuras, sinais, e cerimónias do Antigo Testamento. O sistema sacrificial cessa, porque o sacrifício perfeito já estava realizado. O clero deixa de ter razão de existir, porque o Sumo-Sacerdote já cumpriu a sua função. Os rudimentos deixam de ser necessários, porque aquele que É já completou a sua missão. O véu que limitava o acesso a Deus é rasgado, de cima a baixo. Os elementos materiais deixam de ser necessários, para a adoração, porque Deus procura os que o adoram em espírito e em verdade. O que estava velado é revelado. O que estava prometido é cumprido. É a inauguração do “tudo se fez novo”!

Então, a ressurreição não é a vitória? Não! A ressurreição é a marcha triunfal de Jesus! Marcha triunfal, não foi o que aconteceu no domingo anterior, conhecido como o “Domingo de Ramos”. Essa marcha era simplesmente a ovelha a encaminhar-se para o matadouro. A verdadeira marcha triunfal é a ressurreição. Este desfile vitorioso, como acontecia e acontece com todos os que saem vitoriosos da guerra, é não só o selo de aprovação de Deus, como também a evidência que nós precisávamos, para antever o que nos espera!

Viver deste lado da morte e ressurreição de Cristo é uma realidade com a qual todos os personagens do Antigo Testamento só puderam sonhar e imaginar. A fé continua necessária. Mas, temos a bênção de a colocar em algo que já aconteceu, que está documentado, que foi testemunhado, verificado e confirmado. Celebremos a morte de Jesus! Essa foi a grande obra à qual se referiu Isaías, ao dizer “O trabalho da sua alma ele verá e ficará satisfeito” (Isaías 53;11a). Afinal, um dos únicos dois memoriais que Jesus nos deixou faz referência precisamente à sua morte: “Anunciais a morte do Senhor, até que venha” (I Coríntios 11:26). É essa a celebração! É esse o grande milagre!

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares

Consagração feminina ao pastorado - I Timóteo 2:11-15

Sacramentalismo - os atos que conferem graça...

O dia do Pastor

Escondi a Tua Palavra...

Consagração feminina ao pastorado - I Timóteo 2:11-15 - Uma resposta comentada