Nem tudo o que vem à
rede é peixe. Quando se vai à pesca, também vêm à rede botas
velhas, latas enferrujadas, sacos de plástico e outros pedaços de
lixo inútil. Os oceanos estão cada vez mais poluídos, chegando-se
ao extremo impensável de existirem autênticas ilhas de plástico à
deriva no mar. A fauna marítima está a ressentir-se destas
agressões ecológicas, com impactos diretos e indiretos em todo o
ecossistema. E é cada vez mais verdade que nem tudo o que vem à
rede é peixe.
Sendo assolados pelas
mais variadas tendências doutrinárias, do ponto de vista do ensino
bíblico, o cenário é semelhante. A crescente propensão consumista
e imediatista da sociedade atual é verdadeiro combustível para o
surgimento e proliferação de todo o tipo e corrente de ensino.
Basta abrir a janela da internet, para teremos acesso às diversas
modas e tendências espirituais, convenientemente adaptadas aos
respetivos nichos de mercado. Há os místicos, os da prosperidade,
os ultraconservadores, os liberais, os dos milagres e curas, os das
visões e profecias, os das serpentes, e há, também, os que
integram vários destes elementos. Perfilam-se, perante os nossos
olhos as ilhas de plástico e lixo pseudoteológico. Tem se tornado
tanto mais fácil escolher uma religião ou doutrina à nossa medida,
como têm abundado consumidores para cada uma das ofertas!
Mas cuidado! Em cada uma
destas variantes religiosas, vamos detetar vestígios da verdade. A
mentira não seria tão facilmente aceite, se não tivesse, pelo
menos, um cheirinho de verdade. A grande dificuldade é que, com o ditadura do relativismo pós-moderno,
perdeu-se a noção de que existe verdade, ou melhor, de que existe
uma verdade. Conceitos como tolerância, aceitação e respeito são
arremessados, como areia para os nossos olhos, para impor a
impossibilidade de chegarmos ao conhecimento da verdade, porque ela
é, dizem, relativa e subjetiva. Cada um terá a sua, conforme o
gosto e as circunstâncias… E, no meio de todo esse caos, grassa
toda a sorte de desvio e mentira.
As pessoas têm aprendido
a procurar alguma coisa para as suas vidas; alguma coisa que resolva
os seus problemas; alguma coisa que resulte; de preferência, alguma
coisa que cause um arrepio. Não importa se é só um remendo,
solução temporária, uma ilusão de solução ou, mesmo, uma
corrente de ar! O que importa é que resulte, ou melhor: que a pessoa
sinta que resulta.
Em vez de conformarem a
sua vida à Verdade que é Jesus, desgastam-se e consomem-se em
esforços inúteis para encontrar soluções avulsas, que na melhor
das hipóteses são meros placebos habilmente vendidos no mercado da
religião.
Nunca será excessiva a
atitude dos habitantes de Beréia perante Paulo e Barnabé. "Ora,
estes foram mais nobres (…) porque de bom grado receberam a
palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram
assim" (Atos 17:11). Verificaram, nas Escrituras, se o
discurso de Paulo fazia sentido. Verificaram se o que ele dizia
correspondia ao texto sagrado, se estava alinhado com a verdade. É
óbvio que esse comportamento pressupõe duas coisas fundamentais: 1
– crer que o texto bíblico é verdadeiro e, 2 – conhecer o texto
bíblico.
Não é preciso saber com
pormenor todos os erros que aparecem acerca das Escrituras, nem
sequer com o pretexto de saber contestá-los – tal tarefa depressa
se revelaria impraticável. A melhor forma de nos exercitarmos a
identificar o erro é aprendendo a conhecer muito bem o que é certo!
Seguros da verdade, não deixaremos nos levar por autênticos
disparates, por melhor camuflados que se encontrem. Aprendemos a
estar atentos a todos os sinais de alarme que soam sempre que alguma
coisa, no mínimo, pareça não bater certo.
Entre o que vamos
recolhendo na nossa rede, vem peixe. Mas vem, também, muito lixo.
Sigamos o exemplo dos bereianos, para não darmos por nós a
deliciar-nos com uma lata panada ou a uma bota grelhada.
PS: E se há um
determinado lugar onde sempre que lançamos a rede apanhamos mais
lixo que peixe, porque não irmos lançar a rede noutras águas, mais
limpas?