Lei de Murphy


O aforismo conhecido como Lei de Murphy afirma que tudo o que puder correr mal, irá correr mal – e há quem acrescente, ainda – da pior maneira possível e no pior momento possível. Todos nós sabemos o que isto significa, desde as situações mais inócuas, como a torrada que cai sempre com a manteiga virada para o chão; até às mais trágicas, como doenças e perdas de emprego que parecem combinar para acontecerem ao mesmo tempo; passando por outras, menos graves mas não menos reais, como a forma solidária como todos os eletrodomésticos da casa avariam no mesmo mês. O nosso povo já dizia, muito antes da Lei de Murphy, “uma desgraça nunca vem só” e “não há duas sem três”.
Apesar do tom fatalista e dos elementos de superstição contidos nestes provérbios, a realidade é que existem momentos em que “parece que o mundo inteiro se uniu p’ra me tramar”. São momentos em que alguns dos nossos maiores temores abatem-se sobre nós: agrava-se a saúde, deterioram-se relacionamentos, perde-se o emprego, amontoam-se despesas, escasseia o sustento, perdem-se entes queridos… Tudo acontece da pior forma possível, no pior momento possível. De uma hora para a outra, a segurança, o conforto e a paz passaram a ser coisas do passado. Chegou a dor, a angústia, a aflição, o tormento. Sentimo-nos esmagados por uma espécie de tempestade perfeita, ao ponto de deixarmos de ver soluções e de se desvanecer toda a esperança. Muitos chegam a desesperar da própria vida.
A fragilidade humana perante estes problemas é tal que os mercenários da religião aproveitam para lucrar, oferecendo proteção em troca de uma fé generosa. A premissa é que Deus quer que os seus filhos sejam saudáveis, ricos, prósperos e bem sucedidos. Logo, os fiéis contribuintes serão sempre poupados, desde que a sua fé seja genuína. Quanto aos que já se encontram em momentos de aflição, a receita para sair do buraco é a mesma – fé e contribuição generosa. Estes profissionais da religião vendem uma Lei de Deus que é a antítese da Lei de Murphy: se seguirmos os preceitos que anunciam, tudo o que puder correr bem, irá correr bem, na melhor altura possível e da melhor forma possível. Como seria de esperar, muitos compram esta ideia.
Mas, será que a Bíblia oferece aos crentes uma antítese da Lei de Murphy? Parece-me que não será necessária muita investigação para concluir que não. A Bíblia contém histórias de homens e mulheres cuja vida é um paradigma de que tudo o que pode correr mal, corre, realmente, mal. Porventura, um dos expoentes máximos será Jó, um homem temente a Deus, mas, nem por isso, imune a que calamidades se abatessem sobre a sua vida. Abreviadamente, Jó perdeu tudo: Bens, riquezas, família, amigos, estatuto social, credibilidade e, até, saúde. Mas, no final do seu livro, vemos que os infortúnios por que passou tiveram um propósito: “Com os ouvidos eu ouvira falar de ti; mas agora te vêm os meus olhos” (Jó 42:5).
Também o profeta Habacuque mostra que ter um relacionamento com Deus não é sinónimo de isenção de dificuldades: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto nas vides; ainda que falhe o produto da oliveira, e os campos não produzam mantimento; ainda que o rebanho seja exterminado da malhada e nos currais não haja gado; todavia eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação” (Habacuque 3:17-18). Parafraseando: “mesmo que a lei de Murphy se cumpra e tudo o que puder correr mal, corra mal, no pior momento e da pior forma, mesmo assim, eu me alegrarei no Senhor, exultarei no Deus da minha salvação.”
Quando falou com Josué, Deus disse-lhe “…não te deixarei, nem te desampararei”, e “…o Senhor teu Deus está contigo, por onde quer que andares” (Josué 1:5, 9). A Lei de Deus não é uma antítese da Lei de Murphy. Em vez disso, o que Deus diz é “sempre que tudo o que puder correr mal, correr mal, na pior altura e da pior forma possível, eu vou estar lá contigo. Não te deixarei nem te desampararei.” A sua garantia é de que nunca caminharemos sós. Não haverá tempestade que se abata sobre nós que Ele não a passe connosco. Queiramos nós conhecê-lo de tal forma que a perceção da sua presença seja uma realidade em cada momento da nossa vida. Entendamos, também, que o que precisamos não é que tudo nos corra bem. O que realmente precisamos é de Deus!

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